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[Original] Kajitsu no Keikoku (Warnings of The Fruit) - Capítulo único

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Mensagem por Mizuki Qui Jul 25, 2013 12:17 pm

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Dentro de uma vasta terra vazia encontrava-se um lugar místico. Ninguém sabia como surgira, e nem os meios exatos de encontrá-lo. Dizia-se que era uma terra verde e repleta de paz. Por toda a parte, encontravam-se ruínas de muitos templos, e no principal deles, contava-se de um oráculo capaz de realizar qualquer desejo. Este lugar era conhecido como Ruínas do Silêncio, e era parte integrante de muitas lendas. Lendas, aliás, que eram tidas como verdadeiras por quase todos os que as conheciam.

Uma pessoa em especial foi uma das que se pôs a vagar pelas terras áridas em busca desse lugar. Cabisbaixa, ela atravessou o deserto escuro. O vento sacudia violentamente sua capa e suas vestes e criava uma cortina de areia. Com o rosto protegido por lenços, olhou para cima e viu as muitas nuvens cinzentas, movendo-se lentamente, com poucas brechas de luz. Em pleno dia, o cenário mais lembrava a noite. Era melancólico, e por que não dizer, assustador. Todos os dias eram assim, como o prelúdio de uma grande tempestade. Apesar disso, raramente chovia naquele lugar. O imenso manto de escuridão amedrontava as pessoas e cobria quase permanentemente a luz do sol. Ela não fazia ideia do por que, e nem tinha tempo ou vontade para tentar descobrir. Só continuava seguindo, constantemente.

O vento também revelava pedras pontiagudas sob a areia. Mesmo calçada, seus pés feriram-se em algumas delas, e em certos momentos sentiu que seria derrubada pela força das rajadas. No entanto, ela sentia-se completamente compelida a continuar sua busca. Sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria encontrando algo – Sim, no seu íntimo, ela tinha certeza da veracidade das lendas. E essa certeza a guiava, mesmo sem traçar rumo certo sobre as areias.

E, ao que parece, a certeza acabou por guiá-la ao local correto. Num piscar de olhos, viu-se dentro de um lugar completamente diferente: Uma suave névoa branca preenchia o ar, sobre a grama verdíssima e macia. Algumas árvores mais adiante, repletas de orvalho, refletiam os raios de sol, provindos de um céu azul e sereno. Assombrada, percebeu onde estava: Nas tão faladas Ruínas do Silêncio.

E não foi preciso andar muito para encontrar as ruínas do nome: Elas surgiam uma após a outra conforme caminhava. Parando por um momento, mas sem interromper seu deslumbramento, ela tirou os lenços de seu rosto e a capa, deixando-se respirar aquele ar puro e fresco. O vento balançou de leve seu vestido enquanto continuava a andar pelo local.

Cabelos lisos, pálida, e olhos escuros repletos de fascínio. A garota que reunira toda a sua coragem para atravessar o deserto finalmente estava ali, na terra lendária. As muitas ruínas não deixavam dúvidas. Pilares, bancos de pedra, altares e até mesmo algumas estátuas erguiam-se por todos os lados. Embora houvesse uma quantidade de musgo cobrindo boa parte delas, ainda assim elas lhe pareciam mais brancas do que qualquer outra pedra que já tivesse visto.

Seguindo pela relva orvalhada, ela chegou a um grande pátio com um templo ainda inteiro. Embora não fosse tão grande, era imponente, e o mesmo podia-se dizer da estátua em frente dele. A figura de um magnífico anjo de quatro asas com uma esmeralda cravada no peito levantava-se sobre uma pequena plataforma. Seus olhos pareciam observar e guardar todo o local, e a gema verde reluzia ao sol. Era incrível. Mas, em questão de alguns momentos, ela recompôs-se e entrou no edifício.

Cortinas de veludo vermelho, já bem surradas. Era a única coisa que separavam o corredor principal de uma grande sala octogonal. Talhadas na pedra haviam oito cadeiras, uma em cada lado, e um espelho sobre cada uma. E no centro, uma mesa redonda. No teto, logo acima da mesa, havia uma abertura por onde entrava uma luz – que ela julgou ser do sol. Então, por alguns momentos, ela olhou ao redor e pensou se estava no lugar certo.

- Será que este é mesmo o lugar?
- Sim, é.

A voz a sobressaltou. Levantou os olhos e percebeu que ela vinha da luz na abertura. Uma voz que falava como mais de uma pessoa ao mesmo tempo, num tom solene e imponente.

- Você é... O oráculo?
- Sim. E se você está aqui, provavelmente é porque tem algum assunto a tratar.
- É, eu tenho um desejo a fazer... E esperava que pudesse me ajudar.
- Pois bem, fale.

A garota respirou fundo e começou.

- Eu... Não suporto mais a solidão. Durante toda a minha vida, fui maltratada, enganada, humilhada por todos os tipos de pessoas. Todos em que acreditei me abandonaram ou me traíram, e eu acabei só. Tentei muito para que as coisas mudassem, mas foi em vão. Tudo continuou tão ruim quanto antes. E é por isso que desejo alguém... Alguém que me ame verdadeiramente. Alguém a que eu, também, possa amar sem medo.
- Então, desejas um amor verdadeiro?
- Exatamente.
- Pois muito bem. Para que o seu desejo se realize, coma da maçã que está na mesa.

Ela olhou para a mesa e então viu o fruto. Tinha certeza de que não estava lá antes, mas agora via perfeitamente, uma maçã muito vermelha, reluzindo sobre o branco da pedra. Era a mais bonita que já tinha visto. Quando esticou a mão e estava prestes a tocá-la, a voz falou novamente.

- No entanto, há um preço a ser pago.
- Qual? – perguntou, engolindo em seco.
- Dor. Tristeza. Quanto mais felicidade seu desejo lhe trazer, mais sofrimento terá para compensá-la. Alegrar-se durante o dia, agonizar à noite.
- Mas... Por quê?
- Nada neste mundo é de graça. Mesmo os milagres necessitam de uma compensação para acontecerem. Se aceitas isso, coma a maçã. Seu desejo se realizará.

Ela olhou novamente para o fruto e o pegou. Enquanto fitava o seu próprio reflexo no escarlate profundo da casca, pensou que não tinha mais nada a perder. E deu uma primeira mordida.

Um filete negro escorreu. À medida que mordia o fruto, sua boca era inundada de um líquido denso e extremamente adocicado, que escorria mais e mais de seus lábios e sujava suas mãos. No entanto, ela não parou, não até que uma sensação de dormência tomou seu corpo e o chão desapareceu sob seus pés.

Ela acordou. Não sabia quanto tempo havia passado, nem por que desmaiara. Levantando-se do chão frio, percebeu que não havia nem sinal da maçã, nem do líquido negro, nada. Ela olhou para o oráculo no teto com ares de dúvida.

- Vejo que acordou.
- O que houve?
- Seu desejo foi realizado. Veja em seu pescoço.

A garota tateou o pescoço e sentiu uma espécie de colar. Voltou-se para o espelho mais próximo e viu: Uma fita vermelha e justa, com um pequeno cadeado dourado.

- Esta é a garantia de seu compromisso. Esse colar só poderá ser removido se um dia quiser se desfazer do desejo. Mas, não havendo esta vontade, seu dever é cumprir com as compensações enquanto durar o resultado.
- Entendo... E bem, onde está a pessoa pela qual desejei?
- Lá fora. Se sair, poderá vê-lo.
- Certo. Obrigada!

Ela correu para o lado de fora. O sol ainda brilhava lindamente, e a paz continuava reinando sobre o local. Mas dessa vez, havia algo diferente: Alguém deitado sob uma árvore próxima. Tendo a certeza em seu coração, ela correu até lá.

Encontrou nada menos que um rapaz, aparentemente um pouco mais velho do que ela. Vestindo roupas completamente negras e com o cabelo no mesmo tom, ele dormia tranquilamente. Admirada e também feliz, a garota tocou em seu ombro, e despertou seus grandes olhos púrpuros.

A primeira coisa que o rapaz fez foi perguntar onde estava e por quê. A segunda foi perguntar seu nome. Após algumas explicações e apresentações, ambos não demoraram a começar um contato e a gostarem da presença um do outro.

- Então você desejou que eu estivesse aqui?
- Sim... Eu realmente queria alguém para estar comigo.
- É engraçado – disse ele, sorrindo – Eu sempre quis o mesmo. E agora temos um ao outro.

Os sorrisos brotaram lenta e alegremente no rosto de ambos ao longo daquele dia. Mas a noite chegava e era necessário um lugar para dormir. Havia os restos de uma espécie de castelo no local, e foi lá que eles decidiram morar. Não tinham por que voltar ao mundo exterior, ao menos não naquele momento.

E foi então que, sozinha no quarto que escolhera, ela começou a ter ideia da compensação antes citada. Seu coração apertou-se no peito e foi invadida por uma imensa tristeza. Havia também medo, insegurança... Lágrimas que rolaram rapidamente por sua face. Mas, sabendo do que se tratava, decidiu suportar. Qualquer coisa era melhor que a solidão miserável de antes. Mesmo esse sofrimento aparentemente inexplicável.

A partir daí, ela passou a sofrer sempre. Durante o dia, ria e se divertia com seu novo amigo. Ele a alegrava de uma forma tão espontânea e demonstrava um cuidado tão verdadeiro que ela sentia-se sem coragem de contar sobre a condição cruel. Felicidade de dia, desespero à noite. E esse desespero crescia proporcional à felicidade, que já se tornara algo fundamental em sua vida. Sim, fundamental... Pois ela o amava. O amava demais para vê-lo sofrer por sua causa.

O que lhe restava era tentar sufocar seus prantos para que ele, no outro quarto, nada ouvisse. Ela tapava sua boca e chorava, enfiando o rosto no travesseiro. Cobria-se e tentava abafar seus soluços o máximo possível, enquanto tentava dormir. No dia seguinte, sempre acordava cansada, mas fingia ter dormido bem. E forçava-se a sorrir por ele.

No entanto, tudo mudou numa certa noite. Enquanto preparava-se para dormir, o rapaz ouviu algo vindo do outro quarto, mesmo estando um tanto distante. A curiosidade o guiou pelos corredores até que tivesse certeza: Era um choro. Um choro muito alto, abafado pelas paredes. Sabendo disso, ele correu até o quarto da garota, onde a encontrou deitada, aos prantos. Praticamente gritando e com o rosto encharcado de lágrimas, ela ofegava.

A cena o assustou um bocado. Sem demora, ele correu e sentou-se ao lado dela, segurando sua mão.

- O que houve?! Por que está chorando tanto?!
- Não... Dá... – dizia, entre os soluços.
- Hã?
- Não dá... Pra... Evitar.

Ele não entendia aquilo. Nunca vira alguém em tamanha tristeza, muito menos ela. Ele fitou seus olhos, vermelhos e marejados, e ali ficou. Sentiu que era a única coisa que podia fazer, e assim foi até que a garota adormecesse exausta.

Pelo resto daquela madrugada, ele pensou. Pensou no porquê de tudo aquilo. Ela nunca lhe contou sobre qualquer problema e nunca aparentou estar tão aflita. Certamente, ela era boa em fingir. E mais do que isso, em esconder seus motivos. Sendo que ela não contou nada, apesar da confiança que tinha se formado entre os dois naquele tempo, só podia ser algo grave. E pensando, pensando, ele perguntou-se se não teria a ver com o tal oráculo que o levara pra lá.

Já estava amanhecendo quando o rapaz chegou ao templo. E sem demora, dirigiu-se à luz no teto.

- Você é o tão falado oráculo, não?
- Vejo que me conhece – respondeu – Que queres aqui?
- Quero saber se todo o desespero que vi de ontem pra hoje tem a ver com você.
- Muito bem. A resposta é sim.
- Por quê?
- É a condição do desejo que ela fez. O preço para eu ter lhe escolhido e trazido até ela. Quanto mais feliz ela fica num dia, mais ela sofre à noite para compensar.

Ele cerrou os punhos e sua face se contorceu numa ligeira mistura de surpresa e inconformismo. Fazê-la feliz era o mesmo que fazê-la sofrer, e essa ideia jamais lhe passara pela cabeça. Transtornado, pensou em todas as semanas que se divertiu com ela e em todas as noites que ela tinha chorado daquela forma, escondendo tudo dele. Doía. Doía muito.

- E não há nada que eu possa fazer por ela?
- Há. Você pode desfazer o desejo e libertá-la, se comer daquela maçã ali.

Ele olhou em volta e notou uma maçã verde sobre uma das cadeiras. Tinha certeza de que ela aparecera do nada, até a pegou para verificar se era real. A casca clara era perfeitamente lisa e brilhava como nunca. Ele ainda a olhava quando a voz do oráculo quebrou seu transe.

- No entanto, se desfizer o desejo, vocês não só serão separados como esquecerão completamente um do outro. Ambos voltarão a seus estados originais, como se nada tivesse acontecido.

Ele de fato entendia como a garota sofria naquela vida anterior. Como um prisioneiro da angústia e da solidão, ele viveu e arrastou suas correntes por muito tempo. Não havia alguém sequer que se importasse com sua existência, tanto que desejou a morte em muitas ocasiões. Porém, num dia, acordou naquele lugar, e acabou por ganhar uma amiga. Ou melhor, mais do que isso... Ele a amava. Ele a amava demais para vê-la sofrer por sua causa. E para fazê-la sofrer mais todos os dias.

Mesmo temendo a solidão, mesmo temendo a dor de perder quem amava, ele decidiu seguir em frente. Cravou seus dentes na maçã, e à medida que o líquido negro preenchia sua boca, as lágrimas corriam silenciosas por seu rosto. Ao contrário daquele líquido, eram cheias de amargor.

Um baque rápido antes de sua vista escurecer era tudo de que se lembrava. Ele se levantou, e notou que, além da maçã ter desaparecido, havia em seu pescoço uma longa fita vermelha. E em sua extremidade, uma pequena chave dourada.

- Use esta chave no cadeado do colar – disse o oráculo – Isto irá libertá-la do contrato.

Sem demora, ele correu e a encontrou, que procurava por ele no pátio. Assim que se aproximaram, ele mostrou a chave e explicou o que aquilo faria. A reação, obviamente, não foi agradável.

- Mas o que está dizendo? Você não pode fazer isso!
- Eu preciso. Ou você vai continuar sofrendo...

Ele tentou destrancar o cadeado à força, mas ela recuou e o protegeu com as mãos.

- Não! Eu não quero!
- Mas...
- Eu posso suportar isso... Mas não posso suportar voltar a estar sozinha... Eu prefiro sofrer todas as noites a te perder pra sempre!

A garota pôs-se a chorar, escondendo o rosto entre as mãos. Mas ele logo a abraçou, mais forte do que jamais tinha feito.

- Eu não gosto de te ver sofrendo assim. Mas também não quero te perder... Porque você é a pessoa que eu mais amo.

Ao ouvir essas palavras, ela o abraçou com força, ainda chorando.

- Você também é pra mim. Não queria que você sofresse por me ver daquele jeito...
- Eu entendo.

De repente, uma imensa luz verde elevou-se no meio do pátio. Os dois, assombrados, fitaram a estátua de anjo e viram a grande esmeralda em seu peito brilhar.

- Vejo a angústia de vocês. – disse uma voz muito alta. Era a voz do oráculo.
- Pode fazer algo? – perguntou o rapaz.
- Sim. Eu posso modificar ambos os contratos e fazer com que o sofrimento da compensação seja dividido entre os dois.
- Eu aceito! – respondeu. A garota apenas assentiu com a cabeça.
- Então, que seja.

A luz envolveu todo o local, e quando enfim cessou, já não havia colares. Havia dois delicados anéis dourados, um em cada mão esquerda.

- A partir de agora, ambos dividirão os mesmos fardos. – disse o oráculo – e deverão cuidar um do outro.

A voz cessou num eco, e tudo voltou à paz nas Ruínas do Silêncio. Ambos olharam um para o outro e sorriram antes de terminar tudo... Com um simples, porém sincero, beijo.

Depois disso, conta-se que ambos permaneceram nas Ruínas do Silêncio por mais algum tempo, até que se sentiram prontos para voltar e enfrentar o mundo. O oráculo deixou claro que seriam bem vindos caso voltassem, e sendo assim, ambos partiram. Não se sabe pra onde ou por quanto tempo, só se sabe que foram felizes pelo resto de sua vida. Pudera, já que, agora, não estavam mais sozinhos.

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Inspirada em Kajitsu no Keikoku, da Kanon Wakeshima. Enquanto ouvia e lia a letra, acabei tendo a ideia dessa história XD
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Mensagem por Mizuki Dom Out 13, 2013 8:13 am

Atualizando:
Mais uma das minhas histórias que ganha uma capa graças ao Nyah. Sim, a textura de luz foi colocada pra representar o oráculo da história ^^
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